
No Parque Nacional Peneda Gerês, mais precisamente, em Arcos de Valdevez, associada ao Mosteiro de Ermelo, existe uma romaria centenária que se mantem até a atualidade. A peregrinação a São Bento de Ermelo, ou São "Bentinho" de Ermelo também conhecida como "A Romaria Sem Sol". Este evento religioso ocorre anualmente a 11 de julho, data que marca a festa litúrgica de São Bento, padroeiro de Arcos de Valdevez. Esta romaria, de origem centenária, atrai uma multidão de fiéis de concelhos vizinhos como Ponte da Barca, Monção, Melgaço e Ponte de Lima que chegam ao santuário antes do amanhecer para realizar os tradicionais rituais de devoção e agradecer ou pedir graças. A peregrinação começa na noite do dia anterior, 10 de julho, véspera do feriado municipal de Arcos de Valdevez.

Depois do jantar, os peregrinos formam grupos alegres, compostos principalmente por jovens, mas também por alguns idosos que, fiéis à tradição, não deixam de participar. Por volta da meia noite inicia-se a caminhada que durará cerca de 4 horas pela madrugada dentro (de noite). Em Arcos de Valdevez, tem inicio na Ponte dos Arcos, em que, munidos de bengalas, paus e "farnéis" (comidas para o percurso), os peregrinos caminham até ao Mosteiro de Ermelo. Ao longo do trajeto, a promessa de fé é acompanhada de rituais como o voto de silêncio e caminhar descalço. Também, durante as 4 horas de caminhos de serra, os peregrinos, sem desrespeitar o culto, relembram histórias de antigamente, lendas, e outros temas que os fazem relembrar a caminhada durante anos.

O Mosteiro de Santa Maria do Ermelo, fundado pelos monges cistercienses sob a regra de São Bento, é o epicentro desta romaria. Embora o mosteiro original tenha sido quase completamente destruído, resta a igreja românica, onde a venerada imagem de São Bento, com seu tradicional chapéu de peregrino, atrai a devoção dos romeiros. São Bento é considerado um curador de "maus males", especialmente doenças de pele, como verrugas (chamadas "cravos") que se dizem ganhar quando se aponta para as estrelas, e o povo traz cravos vermelhos ou brancos como forma de agradecimento pela cura ou pedido de proteção.

Ao chegar ao santuário, os peregrinos realizam rituais específicos, como dar certo número de voltas ao redor da igreja (sempre um número ímpar), rezar em silêncio e depositar oferendas no altar de São Bento, como cera, moedas e cravos. Uma das tradições mais marcantes é o momento em que os romeiros se benzem com o chapéu da imagem de São Bento, um ato de fé que simboliza a entrega de suas promessas.

A celebração culmina com a missa da madrugada, que começa às 6h, e a grande procissão, que ocorre ao meio-dia, percorrendo as ruas de Ermelo, acompanhada pelo som dos sinos e dos foguetes. Durante o dia, os romeiros continuam a romaria, visitando as tendas de "comes e bebes", trocando histórias e compartilhando momentos de devoção e alegria.

Apesar das dificuldades do trajeto, a romaria é uma oportunidade de vivenciar uma rica herança cultural, religiosa e comunitária. O Mosteiro de Ermelo, com sua beleza arquitetônica e paisagem exuberante, é um cenário que torna a experiência ainda mais significativa. Os laranjais do Ermelo, famosos pela qualidade de seus frutos, são parte dessa paisagem, e contribuem para a manutenção e valorização da tradição.

Esta romaria, conhecida como a "Romaria sem Sol", é um testemunho de fé, de devoção e de profunda ligação entre o povo e o santo padroeiro. Repete-se a cada ano, renovando o compromisso de fé, e trazendo consigo a promessa de que, ao longo do caminho, o peregrino encontra não apenas o santo, mas também a si mesmo, em uma jornada de reflexão e superação.