Recontro de Valdevez
- Arcos Tour

- 10 de dez.
- 3 min de leitura

Era uma vez…
No coração verdejante do Alto-Minho, existia um vale atravessado por um rio chamado de "Vez", onde a natureza desenhava paisagens serenas entre montes altos e campos férteis. Nesse lugar tranquilo, no ano de 1141, desenrolou-se um episódio tão singular e tão decisivo que o povo nunca mais o esqueceu. Foi ali que aconteceu o Recontro de Valdevez, um confronto inesperado que, mais tarde, daria origem à lenda de que foi naquele vale onde Portugal se fez.

Naqueles tempos, Portugal ainda não era um reino, era o Condado Portucalense liderado por D. Afonso Henriques, um homem determinado a afirmar a independência do seu povo. O seu primo, D. Afonso VII, reinava sobre Leão e Castela e intitulava-se Imperador, esperando que todos os governantes da Península, incluindo o primo português, reconhecessem a sua autoridade. Esta diferença de visões rapidamente se transformou num conflito latente que se arrastava desde a assinatura do Tratado de Paz de Tui, em 1137, um acordo que pouco mais fez do que adiar a guerra.

Dois anos depois, em 1139, após a célebre vitória de Ourique sobre os mouros, D. Afonso Henriques ganhou confiança e força política. Embalado pelo triunfo, decidiu avançar sobre a Galiza e conquistou castelos sob proteção do Imperador. Essa iniciativa rompeu o delicado equilíbrio entre os dois primos e inflamou uma tensão que levaria os seus exércitos a encontrarem-se.

O Imperador respondeu rapidamente. Reuniu um grande exército e atravessou serras e vales até entrar em terras portuguesas. Desceu pela Serra do Soajo e chegou a Terras do Val do Vez, onde D. Afonso Henriques já se encontrava acampado com os seus homens. O ambiente era tenso e os dois exércitos posicionaram-se, como se o destino do condado estivesse prestes a ser decidido numa batalha sangrenta.

Mas a história tomou um rumo inesperado, e é aqui que a lenda começa a ganhar forma. Apesar de o exército de D. Afonso VII estar em maior número, D. Afonso Henriques econtrava-se posicionado no Castelo de Santa Cruz, o que lhe criou uma vantagem estratégica. Diz-se que, após horas de provocações e pequenas escaramuças, ambos os líderes, talvez movidos pela necessidade de poupar homens para a guerra cristâ contra os mouros a sul, talvez pela honra, decidiram evitar uma batalha campal. Em vez disso, concordaram em resolver o conflito através de um bafordo, uma espécie de torneio medieval em que os melhores cavaleiros de cada lado lutariam segundo as regras da cavalaria, tendo sido este o unico torneio medieval da história de Portugal.

O vale, onde hoje é o Campo Transladário, transformou-se numa arena. Cavaleiros experientes avançaram com lanças e escudos, cada investida carregada de coragem e destreza. O choque das armas ecoou pelos montes, e a poeira levantou-se sob os cascos dos cavalos. Há quem diga que o Rio Vez mudou para cor vermelha derivado ao sangue derramado. Os cavaleiros de D. Afonso Henriques saíram vitoriosos. A sua perícia e o seu brio convenceram o Imperador de que insistir na luta seria uma imprudência que traria perdas desnecessárias. Assim, a guerra deu lugar à diplomacia. Os dois primos encontraram-se numa tenda entre os exércitos, conversaram em privado, selaram a paz e puseram fim ao conflito que ameaçava devastar o Minho.

Dois anos mais tarde em 1143, este conflito deu origem ao Tratado de Zamora, onde D. Afonso Henriques foi finalmente reconhecido como Rei de Portugal. Foi então que o condado portucalense tomou o nome de Portugal e se afirmou como reino independente perante a Europa cristã. E assim, olhando para trás, percebe-se que o Recontro de Valdevez foi o passo decisivo que preparou o nascimento oficial do país.

Com o passar dos séculos, artistas e historiadores devolveram vida a este episódio. Nos azulejos da Estação de S. Bento, no Porto, Jorge Colaço eternizou o torneio. Em Arcos de Valdevez, o escultor José Rodrigues criou um monumento equestre imponente que celebra a coragem daqueles que ali combateram. E todos os anos, no Paço de Giela, o Município realiza uma recriação histórica que faz o passado renascer diante de quem a assiste.

Assim nasceu e cresceu a lenda do Recontro de Valdevez, Reencontro de Valdevez, Bafordo de Valdevez ou Torneio de Valdevez, um momento único onde a guerra deu lugar à diplomacia e onde a coragem dos cavaleiros abriu caminho ao reconhecimento de Portugal como nação independente. Por isso se diz, com orgulho e verdade:
Arcos de Valdevez, Onde Portugal Se Fez
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